quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A chegada de Manuela

Daniela Leite Fotografia
Casei e logo engravidei. Tanto eu quanto meu marido precisamos de um tempo para absorver a novidade. Lembro que quando vi o resultado positivo no exame de urina, com apenas quatro meses de casada, estava na casa dos meus pais. Tinha comprado o teste de farmácia sem falar com ninguém. Fui ao banheiro, fiz o exame e... dois tracinhos rosa bem fortes apareceram de imediato! Não lembro exatamente o que pensei, só lembro que fui chorando para a cozinha e falei para o meu pai. Ele me abraçou e disse: "Calma, filha. Filho é benção.". Depois disso, liguei para o meu marido e dei a notícia. Nós dois ficamos assustados e apreensivos. Lembro também de uma noite em que não consegui dormir. Chorei sentada no chão do banheiro, pensando em como um filho ia mudar a minha vida.

Depois do choque inicial, as lembranças são outras. Os sentimentos foram, aos poucos, mudando. A preocupação foi se transformando em expectativa. As consultas, os exames, as compras do enxoval, a preparação do quartinho, cada etapa da gestação me ajudou a celebrar a chegada da nossa pequena. A gravidez foi um período muito especial e o parto, mesmo não tendo sido como imaginei, foi o parto possível para mim. 

Entre as minhas amigas mais próximas, fui a primeira a engravidar. Eu estava com 24 anos e, até então, não pensava muito sobre isso. Só sabia que tinha medo da tão falada dor do parto. Mesmo sem saber exatamente o que eu queria, encontrei uma médica que incentivava o parto normal. A atitude dela me encorajou. Ao longo do tempo, fui lendo e pesquisando sobre a gravidez semana a semana e sobre partos. A gestação foi tranquila, engordei apenas o esperado, os exames não apresentaram alterações, o bebê estava se desenvolvendo bem. Porém, por mais que nós nos preparemos, às vezes, o imprevisto subitamente nos alcança. Na reta final, entrando no nono mês, tive pré-eclâmpsia. Com 37 semanas, Manuela nasceu de uma cesárea de urgência, com 2,0 kg. Ela perdeu peso após o nascimento, teve uma alteração da glicose e icterícia. Precisou ficar oito dias na UTI Neonatal.

No dia seguinte ao parto, eu fiquei muito abatida. A minha recuperação da cesárea foi dolorosa. Claro que o que intensificou ainda mais a minha dor física foi a ausência da minha filha em meus braços. Quando recebi alta, alguns dias depois, chorei muito. Eu estava retornando para casa, a minha pequena não. Mas a permanência da Manu no hospital me trouxe algumas lições. A UTI Neonatal nos ensina a diminuir o ritmo, a controlar a ansiedade, a celebrar as pequenas conquistas diárias. Nos primeiros dias, eu e meu marido ficávamos angustiados com a "falta" de notícias e buscávamos atualizações do quadro constantemente. Mas o retorno da equipe médica era o mesmo. Precisávamos esperar, ter calma e paciência. O ganho de peso seria gradual. A cada dia, assim que chegávamos no hospital, eu checava a última pesagem. Celebrava cada grama que ela ganhava. Em seguida, iniciava a rotina no lactário. Tirava leite de três em três horas, com a bomba manual, e enchia com muita dor e alegria a chuquinha para Manu. As enfermeiras me chamavam carinhosamente de "mãezinha". Eram pacientes e cuidadosas, pois entendiam a fragilidade dos pais que circulavam por ali. Com elas aprendi que os bebês não são tão frágeis como tememos. Aprendi a trocar fraldas, a dar banho, a amamentar. Além disso, convivi com outras "mãezinhas" que estavam já há alguns meses lutando com seus filhos em situações muito mais graves. Mais uma lição: aprendi a agradecer.

Como eu previ, a chegada da Manuela mudou a minha vida. Mas de um jeito diferente do que eu havia imaginado naquela noite no banheiro. Ela me fez mãe, me fez uma mulher melhor, me fez uma filha melhor, me fez uma profissional melhor. Mudei de planos, chorei, comemorei, esperei, amadureci. Com a sua chegada, eu e meu marido vivemos grandes alegrias, como no dia em que ela recebeu alta da UTI Neonatal. E, ao longo desses quatro anos, a jornada diária com a nossa pequena Manu tem sido repleta de descobertas e aprendizados, tanto para ela quanto para nós. Um mega (ela adora esta palavra) privilégio!