quarta-feira, 22 de março de 2017

Desenvolvimento infantil

Ao longo da vida, os seres humanos passam por complexos processos de desenvolvimento, mas as rápidas mudanças que ocorrem durante os primeiros períodos do ciclo vital são mais amplas do que em qualquer outro momento (1). A infância é uma fase crítica do desenvolvimento e se caracteriza por um processo intenso de crescimento e maturação biológica (2). Nessa fase, firmam-se os alicerces para a posterior aquisição de habilidades mais complexas.

O processo vitalício de desenvolvimento inclui os domínios físico, cognitivo e psicossocial (1). O desenvolvimento cognitivo compreende as diferentes capacidades mentais, tais como percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, aprendizagem, julgamento moral, criatividade. Dentro desse domínio do desenvolvimento estão também as funções executivas, que “referem-se, de forma geral, à capacidade do sujeito de engajar- se em comportamentos orientados a objetivos, ou seja, à realização de ações voluntárias, independentes, autônomas, auto-organizadas e orientadas para metas específicas” (3). Todas essas capacidades mentais estão intimamente relacionadas ao crescimento físico e à competência socioemocional.

Portanto, estar atento às crianças em seus primeiros anos de vida é fundamental. As vivências, as oportunidades, os estímulos e as aprendizagens desse período vão nortear todo processo de desenvolvimento. Além disso, a sensibilidade para atender às necessidades do bebê, o afeto dedicado à criança, a orientação, o interesse e a valorização dos cuidadores nessa fase inicial contribuem para a consolidação do sentimento de segurança e de uma autoestima adequada. Fatores estes que favorecem a aprendizagem.

Além disso, é essencial ao desenvolvimento a participação da criança em diferentes contextos sociais, como a família estendida, a comunidade onde vive, a escola. Neste espaço especificamente, a criança interage com um novo mundo, repleto de possibilidades, mas sem o aconchego familiar. Assim, ela já começa a trilhar sua própria trajetória, conquistando, a cada dia, novas habilidades e autonomia.

Referências Bibliográficas
(1) PAPALIA, D.; OLDS, S.W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Porto alegre: Artmed, 2006.
(2) MECCA, T. P., ANTONIO, D. A. M., MACEDO, E. C. Desenvolvimento da inteligência em pré-escolares: Implicações para a aprendizagemRevista de Psicopedagogia, 29 (88), 66-73, 2012
(3) GODOY, S., DIAS, N. M., TREVISAN, B. T., MENEZES A., SEABRA, A. G. Concepções teóricas acerca das funções executivas e das altas habilidadesCadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 10 (1), p. 76-85, 2010.


segunda-feira, 6 de março de 2017

Relato de um parto hospitalar

Arquivo pessoal

Marcela nasceu com 39 semanas, pesando 2,840 kg e medindo 47 cm, às 5h05 da manhã de uma terça-feira. Eu já sentia dores desde sexta-feira. A sensação era de que seria a qualquer momento. Estava ansiosa, pois não sabia exatamente o que esperar. Os incômodos, que começaram dias antes do nascimento, indicavam que o meu corpo estava se preparando para o parto. Como foi difícil esperar pelo tempo do meu corpo! Quantas vezes pensei em ligar para a médica e agendar logo uma cesárea. 


Sexta-feira. Fui passear com a minha irmã pelo centro da cidade. Tinha muitas contrações ao longo do dia, mas elas não pegavam ritmo nem frequência. Eram os pródromos, que para mim foram muito desconfortáveis. À noite, saímos para jantar. Mais contrações irregulares.
Sábado. Mais contrações, muita ansiedade. Eu e meu marido fomos ao cinema com a Manu para relaxar. Mais contrações irregulares ao longo de todo o dia.
Domingo. Senti a calcinha umedecida e fui com meu marido à emergência da maternidade para verificar se estava tudo bem. A médica plantonista disse que a bolsa estava intacta, mas que o parto estava próximo, pois a mamãe já estava com 3 cm de dilatação. A ansiedade aumentou! Voltamos para casa.
Segunda-feira. Pedi ao meu marido para não ir trabalhar. Contrações mais doloridas ao longo do dia. Sentia dor na região lombar das costas e cólica. Fomos caminhar pelo condomínio para estimular o trabalho de parto. O tampão mucoso saiu. À noite, a dor aumentou e as contrações começaram a ficar regulares. Obedeci à orientação médica e fiquei atenta aos intervalos entre as contrações. Mas não aguentei esperar que o intervalo fosse de 5 em 5 minutos.
Terça-feira. Chegamos à maternidade por volta de 0h45. Foi uma das noites mais frias do ano! Estava tendo contrações de 10 em 10 minutos. A médica plantonista me examinou e confirmou que o trabalho de parto estava na fase ativa. Já estava com 7 cm de dilatação e fui internada. Eu e meu marido fomos até a sala de parto. Algumas contrações pelo caminho. A enfermeira me elogiou pela força. Respirei fundo e pensei no que vinha pela frente. Não sabia, na verdade. O papai estava o tempo todo ao meu lado. Em seguida, a médica chegou. Fez o exame de toque. Foi muito dolorido! Eu e meu marido ficamos, então, sozinhos na sala, olhamos um para o outro, estávamos apreensivos. A médica acompanhou tudo, mas não falava muito, não explicou o que aconteceria, não sugeriu melhores posições, não aconselhou sobre a respiração. Mesmo assim eu me senti segura. Sinceramente, meu maior temor era sofrer algum tipo de negligência ou violência. Mas fui tratada com carinho, paciência, atenção. Fiquei sentada na cama, meu marido ao meu lado, em uma cadeira. As contrações continuavam. Dor. Dor. Dor. Muita dor. Muita dor. Dor. Dor. Dor. Alívio. Muito frio. 
Outro toque, muito dolorido! A médica então optou por romper a bolsa para acelerar o trabalho de parto. Procedimento incômodo, desconfortável. Saída do líquido. As contrações ficaram ainda mais fortes. Muita dor! Senti uma pressão muito forte no assoalho pélvico. Comecei a ficar nervosa, sentindo que não iria aguentar a dor, e pedi à médica anestesia. Contrações muito doloridas. Muita dor. Gritos de dor. Desespero. A sensação era de que não iria dar conta. Foi aplicada, então, a anestesia. Mas a médica explicou que não poderia tirar completamente a dor, pois eu precisava sentir as contrações para saber quando fazer força. “Você que vai fazer a sua filha nascer”, disse a médica, com carinho. Muita dor. A anestesia ainda não havia aliviado as dores. Muita dor. A médica, então, disse que como a dor estava muito forte, provavelmente, o bebê já estava querendo nascer e pediu para que eu me deitasse. Qualquer movimento doía muito. Gritei, disse que não iria aguentar, pedi ajuda a Deus. Muita dor.
Era o início da fase expulsiva. Eu me deitei, puxei um ferro com as mãos e empurrei outro com os pés. Pernas abertas. Médica posicionada. Força. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. Já não sentia mais dor, mas estava muito cansada. Outra contração. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. A médica chamou o papai para ver a cabecinha, mas o papai não viu nada. A enfermeira empurrava minha barriga. Pedi a ela que parasse, pois eu não estava conseguindo me concentrar para fazer força. Outra contração. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. Cansaço. Mais algumas contrações. Mais força. Episiotomia. A médica informou meu marido, que a essa altura estava muito angustiado. Eu já não sentia dor, mas estava exausta. Mais uma contração, a última. Força. O bebê nasceu! Marcelinha foi colocada na minha barriga. Cansaço. Alívio. Relaxamento. Alegria. Agradeci a todos, à médica, à enfermeira, à anestesista, à pediatra. Estava meio zonza, meio nas nuvens.
Minha filha ficou o tempo todo conosco. Todas as avaliações foram feitas na sala de parto e depois fomos juntas para o quarto. Na tarde de terça-feira, vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida: apresentei Marcelinha a sua irmã Manu. Foi lindo!

Obs.: Os termos em itálico são resultado da minha própria pesquisa durante e após o meu trabalho de parto.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A chegada de Manuela

Daniela Leite Fotografia
Casei e logo engravidei. Tanto eu quanto meu marido precisamos de um tempo para absorver a novidade. Lembro que quando vi o resultado positivo no exame de urina, com apenas quatro meses de casada, estava na casa dos meus pais. Tinha comprado o teste de farmácia sem falar com ninguém. Fui ao banheiro, fiz o exame e... dois tracinhos rosa bem fortes apareceram de imediato! Não lembro exatamente o que pensei, só lembro que fui chorando para a cozinha e falei para o meu pai. Ele me abraçou e disse: "Calma, filha. Filho é benção.". Depois disso, liguei para o meu marido e dei a notícia. Nós dois ficamos assustados e apreensivos. Lembro também de uma noite em que não consegui dormir. Chorei sentada no chão do banheiro, pensando em como um filho ia mudar a minha vida.

Depois do choque inicial, as lembranças são outras. Os sentimentos foram, aos poucos, mudando. A preocupação foi se transformando em expectativa. As consultas, os exames, as compras do enxoval, a preparação do quartinho, cada etapa da gestação me ajudou a celebrar a chegada da nossa pequena. A gravidez foi um período muito especial e o parto, mesmo não tendo sido como imaginei, foi o parto possível para mim. 

Entre as minhas amigas mais próximas, fui a primeira a engravidar. Eu estava com 24 anos e, até então, não pensava muito sobre isso. Só sabia que tinha medo da tão falada dor do parto. Mesmo sem saber exatamente o que eu queria, encontrei uma médica que incentivava o parto normal. A atitude dela me encorajou. Ao longo do tempo, fui lendo e pesquisando sobre a gravidez semana a semana e sobre partos. A gestação foi tranquila, engordei apenas o esperado, os exames não apresentaram alterações, o bebê estava se desenvolvendo bem. Porém, por mais que nós nos preparemos, às vezes, o imprevisto subitamente nos alcança. Na reta final, entrando no nono mês, tive pré-eclâmpsia. Com 37 semanas, Manuela nasceu de uma cesárea de urgência, com 2,0 kg. Ela perdeu peso após o nascimento, teve uma alteração da glicose e icterícia. Precisou ficar oito dias na UTI Neonatal.

No dia seguinte ao parto, eu fiquei muito abatida. A minha recuperação da cesárea foi dolorosa. Claro que o que intensificou ainda mais a minha dor física foi a ausência da minha filha em meus braços. Quando recebi alta, alguns dias depois, chorei muito. Eu estava retornando para casa, a minha pequena não. Mas a permanência da Manu no hospital me trouxe algumas lições. A UTI Neonatal nos ensina a diminuir o ritmo, a controlar a ansiedade, a celebrar as pequenas conquistas diárias. Nos primeiros dias, eu e meu marido ficávamos angustiados com a "falta" de notícias e buscávamos atualizações do quadro constantemente. Mas o retorno da equipe médica era o mesmo. Precisávamos esperar, ter calma e paciência. O ganho de peso seria gradual. A cada dia, assim que chegávamos no hospital, eu checava a última pesagem. Celebrava cada grama que ela ganhava. Em seguida, iniciava a rotina no lactário. Tirava leite de três em três horas, com a bomba manual, e enchia com muita dor e alegria a chuquinha para Manu. As enfermeiras me chamavam carinhosamente de "mãezinha". Eram pacientes e cuidadosas, pois entendiam a fragilidade dos pais que circulavam por ali. Com elas aprendi que os bebês não são tão frágeis como tememos. Aprendi a trocar fraldas, a dar banho, a amamentar. Além disso, convivi com outras "mãezinhas" que estavam já há alguns meses lutando com seus filhos em situações muito mais graves. Mais uma lição: aprendi a agradecer.

Como eu previ, a chegada da Manuela mudou a minha vida. Mas de um jeito diferente do que eu havia imaginado naquela noite no banheiro. Ela me fez mãe, me fez uma mulher melhor, me fez uma filha melhor, me fez uma profissional melhor. Mudei de planos, chorei, comemorei, esperei, amadureci. Com a sua chegada, eu e meu marido vivemos grandes alegrias, como no dia em que ela recebeu alta da UTI Neonatal. E, ao longo desses quatro anos, a jornada diária com a nossa pequena Manu tem sido repleta de descobertas e aprendizados, tanto para ela quanto para nós. Um mega (ela adora esta palavra) privilégio!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O que podemos aprender com Marlin? Os perigos da superproteção


Se você gosta de assistir a filmes infantis, assim como eu, conhece esse peixinho-palhaço. Sua jornada em busca do filho perdido nos envolve de tal maneira que acompanhamos atentos as cenas de Procurando Nemo (2003). Marlin passa por uma vivência extremamente dolorosa e marcante em sua vida. Enquanto celebra a chegada dos filhotes e a mudança para a casa nova, uma anêmona em um belo recife de coral, um predador ataca sua esposa e sua ninhada, restando apenas um filhote, Nemo. Torna-se, então, um pai superprotetor. Está constantemente vigilante a fim de cumprir a promessa que fez a si mesmo de nunca deixar nada acontecer ao pequeno sobrevivente. O que acentua ainda mais os cuidados excessivos de Marlin é que Nemo tem uma nadadeira menor do que a outra. Em seu primeiro dia de aula, após uma discussão com o pai em frente aos colegas, Nemo se aventura a nadar em mar aberto e acaba sendo capturado por um mergulhador. Inicia-se, então, a busca desesperada de Marlin por seu filho.

Marlin nos traz algumas lições importantes. Vivemos em mundo perigoso. Escutamos frequentemente histórias de negligência, violência, agressão. Há sempre algo com o que se preocupar. O tombo no piso molhado, a queimadura com a água quente no fogão, o sumiço na porta de casa, o assalto no trajeto para a escola, a violência sexual, o amigo que oferece drogas. Diante de tantas ameaças, ficamos apreensivos com relação à segurança de nossos filhos. Por medo de que algo aconteça, monitoramos e acompanhamos. A preocupação se torna ainda mais intensa, quando nós mesmos vivenciamos alguma situação de violência. Mas como lidar com nossos medos e evitar que eles repercutam em práticas parentais nocivas aos filhos? Qual o limite entre a preocupação saudável e a excessiva? Quais as consequências da superproteção?

Todos os pais, ao menos os que se envolvem na educação e no cuidado de seus filhos com amor, preocupam-se e temem que algo ruim aconteça às crianças. Zelar pela segurança delas é papel dos cuidadores. Portanto, proteger os filhos é uma prática parental que contribui para a consolidação do sentimento de segurança. Porém, os cuidados parentais se tornam sufocantes e prejudiciais quando não são oferecidas às crianças e aos adolescentes oportunidades reais de experimentarem o mundo por conta própria. Esse excesso se evidencia com a presença e a vigilância dos cuidadores em todas as atividades dos filhos.

Então, o que podemos aprender com Marlin?

Vivências dolorosas podem nos tornar superprotetores
Vivências dolorosas de violência ou de perda podem fazer com que nos sintamos impotentes. Um caminho possível para lidar com esse sentimento é tentar ao máximo controlar as circunstâncias e evitar situações de risco. Mas o caminho da vigilância constante é penoso e cansativo. Além disso, é também o caminho da culpa. Isso porque, quando algo foge ao controle, pais superprotetores se penitenciam, como se tivessem falhando em sua missão de proteger os filhos e livrá-los de todos os perigos. E, infelizmente, a culpa só intensifica ainda mais a vigilância.
Assim, é muito importante buscar ajuda quando nos sentimos aprisionados pela ansiedade de proteger os filhos a todo custo. Curtir o tempo que passamos com as crianças é muito prazeroso, mas não é possível se estamos a todo tempo tensos e cautelosos. Se só conseguimos pensar nos riscos, não nos permitimos relaxar e aproveitar o momento.

Os cuidados parentais excessivos geram constrangimento para os filhos
Às vezes, as crianças aproveitam situações em que estão na frente de outras pessoas para tentar se desvencilhar do cuidado sufocante dos pais. Nessas situações, pais superprotetores tendem a perder o controle e a expor seus filhos a constrangimentos com atitudes autoritárias e/ou argumentos emocionalmente apelativos. Porém, é muito importante respeitar os filhos e seus sentimentos. Quando o cuidador se excede e faz a criança passar vergonha, ela se sente insegura e fragilizada. Esse comportamento parental não fornece suporte emocional e afeta a autoestima da criança.

Por mais vigilantes que sejamos, não podemos livrar os nossos filhos de tudo
Se relembrarmos a trajetória dos filhos até hoje, com certeza, vamos nos recordar de coisas ruins que aconteceram a eles. Tombos, enfermidades, sumiços, frustrações, reprovações na escola. Não podemos controlar tudo que acontece aos nossos filhos, não podemos poupá-los nem livrá-los de tudo. Precisamos aceitar a nossa incompletude a fim de manejar os inevitáveis sofrimentos da vida. Nós sofremos e nossos filhos sofrerão. Sofrimentos vêm, acidentes acontecem. Por mais cuidadosos que os pais sejam, a vida se encarrega de apresentar difíceis obstáculos a todos nós.

A superproteção compromete a autonomia das crianças
Quando tenta alcançar um objeto que o interessa, o bebê é desafiado a se locomover até ele. Mas se aproximamos o objeto, não há desafio nem aprendizado. O bebê conquista novas habilidades se tiver oportunidades de desbravar o mundo ao seu redor. Da mesma maneira, as crianças e os adolescentes só conquistam autonomia se, em situações cotidianas, tiverem a liberdade de explorar diferentes possibilidades. Os cuidadores podem intervir quando as crianças demandam orientação e segurança. Mas isso não significa necessariamente carregá-las no colo, mas talvez andar de mãos dadas com elas.
É necessário conceder às crianças a chance de viverem suas experiências sem o monitoramento constante dos pais. Quando isso não é possível, situações corriqueiras se tornam grandes barreiras a serem superadas. Os pais não precisam defender os filhos o tempo todo, mas podem ensinar os pequenos a se defenderem por conta própria. Os pais não precisam fazer todas as escolhas, mas podem ensinar os filhos a ponderarem e considerarem diferentes variáveis, a fim de que eles mesmos façam suas escolhas. Os pais não precisam iniciar as conversas e os relacionamentos dos filhos, mas podem incentivá-los a interagir com os outros de maneira autêntica e respeitosa. Quando impedimos que os filhos lidem com situações difíceis, resolvendo tudo por eles, estamos contribuindo para que eles se tornem sujeitos inseguros e sem iniciativa.

Nossos filhos podem nos surpreender
Um dia, os filhos irão nadar por aí com suas próprias nadadeiras. Então, se tiverem tido suporte emocional ao longo de seus primeiros anos, eles terão recursos emocionais para enfrentarem as dificuldades da vida e para batalharem por seus sonhos. Só nos surpreenderemos se confiarmos em nossos filhos. Se confiarmos nos ensinamentos que passamos a eles. Se confiarmos que com a formação participativa e interessada que lhes dedicamos, eles serão capazes de fazer as suas próprias escolhas. Dialogar com os filhos de maneira honesta, expondo os riscos que há no mundo, mas também apresentando as possibilidades, enriquece a relação entre pais e filhos e fortalece o vínculo e a confiança. Amedrontar as crianças apenas acalma a nossa insegurança e apazigua os nossos medos. Enquanto, encorajá-las e incentivá-las a enfrentarem as situações cotidianas com prudência e entusiasmo gera pessoas seguras e preparadas para as lutas da vida. Lutas estas que, certamente, virão.

Há tempo para mudar
Quando as pessoas próximas dizem que estamos exagerando nos cuidados com os filhos, devemos ouvi-las. Dificilmente um cuidador superprotetor admite sua superproteção, pois acredita que os cuidados excessivos estão mais do que justificados frente às inúmeras ameaças. Pensam inclusive que pais que não agem dessa maneira são negligentes.
É difícil mudar, mas reconhecer as nossas falhas já é um começo. Podemos ir devagar, respeitando nosso ritmo. Um passo de cada vez. Não se trata de não se preocupar mais, mas de junto com os filhos construir estratégias de enfrentamento dos perigos diários. Quando o medo nos impede de sermos bons pais, precisamos reavaliar e mudar. Buscar ajuda quando necessário. Os medos fazem parte da vida, mas não podemos deixar que determinem nossas ações e nossas práticas com nossos filhos. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A rede que sustenta a mãe

Outro dia, estava no parquinho com minhas meninas e conheci uma mãe e seu filho de mais ou menos um ano. Era uma criança curiosa e agitada, que demandava o olhar atento e cuidadoso de sua mãe. Conversamos um pouco e ela disse que não pensava em ter mais filhos. Compartilhou que passava o dia com o filho e que era muito cansativo. Mais uns minutos de conversa e soube que ela havia ficado viúva no final da gestação. Entendi, então, seu olhar cansado e triste. Além de ser mãe em tempo integral, com a rotina completamente dedicada ao filho, lidava diariamente com a ausência do marido. Não teve tempo de fazer o seu luto, pois precisou ser forte para cuidar do filho. Felizmente, contou com a ajuda de sua mãe.

O relato daquela mãe me tocou e fiquei digerindo suas palavras por um bom tempo. Lembrei dos primeiros meses com a minha primeira filha. Como é difícil! Tudo é novidade. A família está em adaptação. A mãe está em adaptação. Está aprendendo a amamentar, a decifrar os choros, a lidar com a privação de sono, a manejar os sentimentos de melancolia e angústia. A maternidade começa com desprendimento e renúncias.

Quantas vezes a mãe chora sozinha ao pensar na enorme responsabilidade em suas mãos. Chora por não conseguir aliviar o desconforto de seu bebê. Chora de exaustão. Chora pensando em tudo de mal que pode acontecer a seu filho e que ela não pode controlar. Sente uma angústia, um aperto no coração. Mesmo quem não crê, pede livramento para os seus a Deus. Respira fundo, tenta manter a calma e a sanidade. Racionaliza a situação. Pensa, então, no que pode fazer. A mãe chora também de alegria, de emoção, de amor. É tanto amor que sofre pelo medo de perder. É tudo tão intenso! E tudo isso pode passar pela cabeça de uma mãe, em uma fração de segundos, enquanto embala seu pequeno bebê. Ela o abraça forte, beija-o. Sente seu frágil corpinho junto ao seu.

Poder dividir com alguém é fundamental. Ter uma rede de apoio para compartilhar o cuidado da criança alivia o trabalho e o sofrimento maternos. A participação ativa e acolhedora de outras pessoas traz conforto e segurança para a nova mãe. É tão bom quando há cumplicidade e parceria entre o casal nesse momento tão especial. É tão bom quando não só o pai participa, mas a família, os parentes, os amigos. É tão bom quando alguém encara o choro desesperado do bebê e o acalma. É tão reconfortante quando a mãe pode pensar em si mesma por uns minutos. Quando ela pode ir ao banheiro, escovar os dentes, tomar uma banho, ler um pouco.

Mas nem sempre é possível contar com essa rede. Às vezes, a caminhada é mais solitária.

Que sejamos mais solidários às mães.
Que possamos acolher em vez de julgar.
Que tenhamos mais paciência com o choro das crianças.
Que tenhamos coração aberto e mãos estendidas para ajudar quando preciso.
Que estejamos disponíveis e sensíveis às mães, especialmente às que enfrentam tudo isso sozinhas.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Perfume da alegria e da esperança

As rosas são flores que se destacam na botânica. São cultivadas há séculos e carregam muitos simbolismos. Mas, particularmente, o que realmente admiro nessas lindas flores é a diferença que fazem quando ornamentam um ambiente. Como eu e minhas filhas temos o privilégio de sermos rosas, ao menos em nossos nomes, acredito que também podemos fazer diferença nesse mundo, trazendo cor, perfume, alegria e esperança.

Rosas do jardim
As rosas do meu jardim
Exalam um doce perfume por aí
De dia fazem sorrir
De noite fazem sonhar
Não há quem não se encante
Com a presença cativante
Das mais belas flores que já vi
São elas, Manuela e Marcela

sábado, 7 de janeiro de 2017

Resolução de ano novo: escrever

Escrever é um desafio. Então, vou começar do começo. Meu nome é Fernanda. Nasci no primeiro dia do mês de dezembro de 1987, na capital paulista. Já morei em Brasília e no Rio de Janeiro. Atualmente, estou em Juiz de Fora. O que ficou de tantas mudanças é a sensação de ser de vários lugares e, ao mesmo tempo, de lugar nenhum. Sou casada com um parceiro para toda vida e tenho duas filhas, Manuela e Marcela. Sou psicóloga e gosto (MUITO) de trabalhar com crianças. A intenção é compartilhar um pouco da minha jornada, tocando em temas como auto conhecimento, casamento com filhos, maternidade, psicologia infantil.
Adianto que busco contribuir para a reflexão sobre a infância, respeitando as iniciativas dos cuidadores para manejar os conflitos que se desenrolam (e se enrolam) na dinâmica com as crianças. Apenas sinalizo possibilidades e alternativas, sem prescrever modos de fazer as coisas. Cada família tem seus próprios arranjos e suas particularidades.
Espero que os textos do blog possam inspirar a participação ativa na rotina das crianças. Espero ainda contribuir para alargar as formas de atuação daqueles que integram o dia a dia desses seres humaninhos.
Que a partir das trocas cotidianas com as crianças possamos aprender a ouvir, a respeitar, a acolher, a nos desconcertar, a desconstruir, a construir, a deslocar, a nos reinventar, a ser fonte de segurança e amor!

Daniela Leite Fotografia