quarta-feira, 22 de março de 2017

Desenvolvimento infantil

Ao longo da vida, os seres humanos passam por complexos processos de desenvolvimento, mas as rápidas mudanças que ocorrem durante os primeiros períodos do ciclo vital são mais amplas do que em qualquer outro momento (1). A infância é uma fase crítica do desenvolvimento e se caracteriza por um processo intenso de crescimento e maturação biológica (2). Nessa fase, firmam-se os alicerces para a posterior aquisição de habilidades mais complexas.

O processo vitalício de desenvolvimento inclui os domínios físico, cognitivo e psicossocial (1). O desenvolvimento cognitivo compreende as diferentes capacidades mentais, tais como percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, aprendizagem, julgamento moral, criatividade. Dentro desse domínio do desenvolvimento estão também as funções executivas, que “referem-se, de forma geral, à capacidade do sujeito de engajar- se em comportamentos orientados a objetivos, ou seja, à realização de ações voluntárias, independentes, autônomas, auto-organizadas e orientadas para metas específicas” (3). Todas essas capacidades mentais estão intimamente relacionadas ao crescimento físico e à competência socioemocional.

Portanto, estar atento às crianças em seus primeiros anos de vida é fundamental. As vivências, as oportunidades, os estímulos e as aprendizagens desse período vão nortear todo processo de desenvolvimento. Além disso, a sensibilidade para atender às necessidades do bebê, o afeto dedicado à criança, a orientação, o interesse e a valorização dos cuidadores nessa fase inicial contribuem para a consolidação do sentimento de segurança e de uma autoestima adequada. Fatores estes que favorecem a aprendizagem.

Além disso, é essencial ao desenvolvimento a participação da criança em diferentes contextos sociais, como a família estendida, a comunidade onde vive, a escola. Neste espaço especificamente, a criança interage com um novo mundo, repleto de possibilidades, mas sem o aconchego familiar. Assim, ela já começa a trilhar sua própria trajetória, conquistando, a cada dia, novas habilidades e autonomia.

Referências Bibliográficas
(1) PAPALIA, D.; OLDS, S.W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Porto alegre: Artmed, 2006.
(2) MECCA, T. P., ANTONIO, D. A. M., MACEDO, E. C. Desenvolvimento da inteligência em pré-escolares: Implicações para a aprendizagemRevista de Psicopedagogia, 29 (88), 66-73, 2012
(3) GODOY, S., DIAS, N. M., TREVISAN, B. T., MENEZES A., SEABRA, A. G. Concepções teóricas acerca das funções executivas e das altas habilidadesCadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 10 (1), p. 76-85, 2010.


segunda-feira, 6 de março de 2017

Relato de um parto hospitalar

Arquivo pessoal

Marcela nasceu com 39 semanas, pesando 2,840 kg e medindo 47 cm, às 5h05 da manhã de uma terça-feira. Eu já sentia dores desde sexta-feira. A sensação era de que seria a qualquer momento. Estava ansiosa, pois não sabia exatamente o que esperar. Os incômodos, que começaram dias antes do nascimento, indicavam que o meu corpo estava se preparando para o parto. Como foi difícil esperar pelo tempo do meu corpo! Quantas vezes pensei em ligar para a médica e agendar logo uma cesárea. 


Sexta-feira. Fui passear com a minha irmã pelo centro da cidade. Tinha muitas contrações ao longo do dia, mas elas não pegavam ritmo nem frequência. Eram os pródromos, que para mim foram muito desconfortáveis. À noite, saímos para jantar. Mais contrações irregulares.
Sábado. Mais contrações, muita ansiedade. Eu e meu marido fomos ao cinema com a Manu para relaxar. Mais contrações irregulares ao longo de todo o dia.
Domingo. Senti a calcinha umedecida e fui com meu marido à emergência da maternidade para verificar se estava tudo bem. A médica plantonista disse que a bolsa estava intacta, mas que o parto estava próximo, pois a mamãe já estava com 3 cm de dilatação. A ansiedade aumentou! Voltamos para casa.
Segunda-feira. Pedi ao meu marido para não ir trabalhar. Contrações mais doloridas ao longo do dia. Sentia dor na região lombar das costas e cólica. Fomos caminhar pelo condomínio para estimular o trabalho de parto. O tampão mucoso saiu. À noite, a dor aumentou e as contrações começaram a ficar regulares. Obedeci à orientação médica e fiquei atenta aos intervalos entre as contrações. Mas não aguentei esperar que o intervalo fosse de 5 em 5 minutos.
Terça-feira. Chegamos à maternidade por volta de 0h45. Foi uma das noites mais frias do ano! Estava tendo contrações de 10 em 10 minutos. A médica plantonista me examinou e confirmou que o trabalho de parto estava na fase ativa. Já estava com 7 cm de dilatação e fui internada. Eu e meu marido fomos até a sala de parto. Algumas contrações pelo caminho. A enfermeira me elogiou pela força. Respirei fundo e pensei no que vinha pela frente. Não sabia, na verdade. O papai estava o tempo todo ao meu lado. Em seguida, a médica chegou. Fez o exame de toque. Foi muito dolorido! Eu e meu marido ficamos, então, sozinhos na sala, olhamos um para o outro, estávamos apreensivos. A médica acompanhou tudo, mas não falava muito, não explicou o que aconteceria, não sugeriu melhores posições, não aconselhou sobre a respiração. Mesmo assim eu me senti segura. Sinceramente, meu maior temor era sofrer algum tipo de negligência ou violência. Mas fui tratada com carinho, paciência, atenção. Fiquei sentada na cama, meu marido ao meu lado, em uma cadeira. As contrações continuavam. Dor. Dor. Dor. Muita dor. Muita dor. Dor. Dor. Dor. Alívio. Muito frio. 
Outro toque, muito dolorido! A médica então optou por romper a bolsa para acelerar o trabalho de parto. Procedimento incômodo, desconfortável. Saída do líquido. As contrações ficaram ainda mais fortes. Muita dor! Senti uma pressão muito forte no assoalho pélvico. Comecei a ficar nervosa, sentindo que não iria aguentar a dor, e pedi à médica anestesia. Contrações muito doloridas. Muita dor. Gritos de dor. Desespero. A sensação era de que não iria dar conta. Foi aplicada, então, a anestesia. Mas a médica explicou que não poderia tirar completamente a dor, pois eu precisava sentir as contrações para saber quando fazer força. “Você que vai fazer a sua filha nascer”, disse a médica, com carinho. Muita dor. A anestesia ainda não havia aliviado as dores. Muita dor. A médica, então, disse que como a dor estava muito forte, provavelmente, o bebê já estava querendo nascer e pediu para que eu me deitasse. Qualquer movimento doía muito. Gritei, disse que não iria aguentar, pedi ajuda a Deus. Muita dor.
Era o início da fase expulsiva. Eu me deitei, puxei um ferro com as mãos e empurrei outro com os pés. Pernas abertas. Médica posicionada. Força. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. Já não sentia mais dor, mas estava muito cansada. Outra contração. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. A médica chamou o papai para ver a cabecinha, mas o papai não viu nada. A enfermeira empurrava minha barriga. Pedi a ela que parasse, pois eu não estava conseguindo me concentrar para fazer força. Outra contração. Força. “Tá nascendo, Fernanda, tá nascendo!”. Cansaço. Mais algumas contrações. Mais força. Episiotomia. A médica informou meu marido, que a essa altura estava muito angustiado. Eu já não sentia dor, mas estava exausta. Mais uma contração, a última. Força. O bebê nasceu! Marcelinha foi colocada na minha barriga. Cansaço. Alívio. Relaxamento. Alegria. Agradeci a todos, à médica, à enfermeira, à anestesista, à pediatra. Estava meio zonza, meio nas nuvens.
Minha filha ficou o tempo todo conosco. Todas as avaliações foram feitas na sala de parto e depois fomos juntas para o quarto. Na tarde de terça-feira, vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida: apresentei Marcelinha a sua irmã Manu. Foi lindo!

Obs.: Os termos em itálico são resultado da minha própria pesquisa durante e após o meu trabalho de parto.